14/11/16 - Tendências que impactarão o Marketing de Alimentos no Brasil

Assuntos sobre orgânicos e gender blurring estão em alta e pedem posicionamento das marcas. Saudabilidade já interfere no modo de apresentação de produtos no varejo e portfólios

A indústria alimentar molda como a sociedade se organiza. A maneira com que são consumidos os alimentos, bem como os itens adquiridos refletem o tipo de grupos existentes em uma região. O estudo dessas pessoas ajuda as empresas a encontrarem estratégias sobre sua produção. O que se tem percebido é que o movimento vivido pela sociedade atualmente pode ser definido como uma “volta às origens”. Tendências relacionadas à saudabilidade, incluindo orgânicos e águas saborizadas, mostram o tamanho do desafio para a indústria alimentar.

O relatório de Tendências em Alimentação Saudável da Mintel mostra que quase um terço, 29%, dos consumidores de produtos saudáveis declara ter mudado a alimentação devido a problemas de saúde. No Brasil, o mercado de itens com esse apelo movimentou US$ 34,7 bilhões em 2014, 72,3% a mais do que o montante registrado cinco anos antes, em 2009, segundo levantamento da Euromonitor. Os orgânicos tiveram um crescimento nas vendas de 173,8% no mesmo período.

Compreender os gostos e as mudanças dos hábitos já é uma questão bastante levantada nas reuniões de Marketing, mas capturar a essência da empresa e transformá-la no que o consumidor deseja é o grande desafio. “Os profissionais devem estar atentos às tendências. Elas são instrumento de desvendar o que surge de exigências e demandas. Não existe mais a escolha de um gênero para fazer a sua comunicação, por exemplo. Houve um tempo em que a mulher era responsável pelo alimento de casa, hoje não é mais assim. Temos um consumidor alimentar heterogêneo”, conta Filipe Sampaio Rodrigues, especialista em Gestão e Desenvolvimento de Negócios durante palestra no I Fórum Internacional da Alimentação Consciente.

Alinhamento com as tendências
A questão de Gender Blurring é uma tendência em resposta a esse movimento que deve ser levada em conta pelas marcas. De acordo com a pesquisa “Homens às compras”, produzida pela Toolbox, 70% do público masculino participam ativamente das decisões de compra no ambiente doméstico. Apenas 12% deles não gostam de ir ao supermercado e hoje cerca de 43% da decisão alimentar é feita por homens. Com a formação de novos arranjos familiares fica claro que a decisão de compra pode trocar de mãos de acordo com cada núcleo, e não mais por gênero.

Com o consumidor mais informado e consciente do impacto da alimentação na sua saúde, ele passa a buscar de perto os itens que farão parte de seus hábitos. A aproximação deve ser igualitária para os shoppers. “Vemos que a indústria foca em itens para homens e outros para mulheres, mas criar uma comunicação única traz um peso que essa marca ainda não pode mensurar. Quebrar os estereótipos de que um alimento é para um ou outro será um trabalho difícil para quem está acostumado a falar em nichos”, relata Filipe, também Diretor da marca Casal da Cotovia.

A exigência dos consumidores também esbarra em atributos que não são meramente nutricionais ou de sabor. Nos corredores é possível perceber pessoas que olham tabela nutricional e escolhem produtos pelos atributos de bem estar ou de questões ambientais. “Isso significa que ele está alerta e busca produtos orgânicos, responsáveis e com menos impacto no ecossistema e para quem trabalha nessas indústrias”, pontua Filipe.

Orgânicos ao alcance
No passado não havia muito mais do que produtos frescos e naturais para se consumir, mas, após a urbanização e o crescimento da população, esses itens se tornaram escassos. A busca por esse retorno às tradições indica que a população vem recorrendo a itens naturais como uma forma de adquirir saúde e bem-estar. O orgânico é procurado pelos pais que buscam oferecer o melhor aos filhos e o público sênior, que possui pensão ou aposentadoria, querem bem estar por qualidade de vida ou por remeter à lembrança da infância. Há ainda aqueles com sobrepeso que buscam para reduzir o peso.

Embora haja uma tendência por alimentos livre de toxinas, o consumidor não está disposto para pagar por isso. “A saída é encontrar um equilibro entre o que querem pagar e o que deve ser oferecido. Esse é um nicho ainda marcado como preço premium ou de luxo, sem acessibilidade às diferentes classes sociais. Esse tipo de posicionamento não é compatível com o que vendem sobre o bem estar”, conta o especialista.

A mudança no agronegócio e na indústria deve estar próxima de acontecer, segundo Filipe. “No futuro podemos prever que toda comida será biológica, porque não apenas as pessoas, mas os mercados externos pressionam para que haja a exclusão do uso de químicos nas lavouras. Quem não fizer, perderá espaço”, conta.

Criar diferenciais 
Países como Noruega, Alemanha e Escócia são alguns que já vêm mudando a forma de apresentação das farmácias. Nas prateleiras, os remédios não são mais vistos, existem apenas produtos de bem estar. A prevenção e adesão de alimentos naturais tende a afastar as pessoas desse tipo de comércio em busca de tratamento. Um estilo de vida mais saudável impactará as vendas.

Assim como no passado houve um consumo em larga escala de refrigerantes, esse cenário deve mudar com o apelo das águas saborizadas, com zero açúcar e conservantes. “Vemos que há uma preocupação em incluir nos rótulos itens zero – carboidrato, gordura, sódio –  e a água virou um produto desejo, após vivermos o processo de racionamento. Ela está para deixar de ser commodity para voltar a se tornar alimento. Não basta lançar uma versão, tem que criar um diferencial e esse será o desafio da indústria”, conclui.




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